Cidade

I
Poesia popular é a arte de quem se metamorfoseou
Quem cresceu nas ruas, e num dia de contraste a palavra o conquistou
Quem cresce no erudito
Não sabe que está perdido
Perdido nas regras gramaticais de um poema virtuoso, mas sem sentido.

II
Pode me chamar do que for, mas não estou voltando de mais um dia de trabalho escravo vendo meu país continuar na decadência, aceitando tudo calado. NÃO LUTAR É DIFERENTE DE NÃO-VIOLÊNCIA!


A praça vazia ?

A praça vazia neste dia sombrio
Só diverte os fantasmas...
Desde os antigos caciques
Aos velhos burgueses de Icaraí
Todos dividem o mesmo espaço temporal/espiritual.




Mentes, corações, rios e sementes

Nas margens do cotidiano subúrbio cidade
Todos rostos estranhos passam poluídos
Quem não pensa duas vezes atira a pedra contra crueldade
Todos olhos de crianças... desiludidos

Muitos andam, andam procurando o amor
Mas nesses caminhos só encontram dor
Aqui na cidade se perderam todas as mentes
Corações vazios de homens combatentes



Cidades

Pelas cidades do Rio
De ônibus, van, trem
Todo mundo olha mas não vê ninguém

Pelas ruas cheias, cheias de gente dormindo
Você fala "não importa é só um mendigo"

De dia a compra, de noite o sono
A rua é fria e o prefeito é dono
Expulsa quem fala e mata quem grita
Diz "A população pobre deve ser extinta".




...

As mulheres vendiam guarda-chuvas na chuva
Centenas de pessoas passavam com seus horários apertados
E elas deixavam escapar algumas expressões de dor
Quase imperceptíveis nos seus rostos molhados

A chuva só fazia aumentar
Que vidas infernais!
Não saíam dali e continuavam a gritar
"guarda-chuvas a dez reais!"

Uma usava uma camisa preta
Dizendo "não estou só"
Quem examina tem certeza
De que a chuva, entre todos os seus problemas é o menor.



O desespero da cidade

I

Na rua os carros agressivamente
Passam sem parar
Na calçada as pessoas covardemente
Sequer dirigem o olhar

E o invisível dói, o desgraçado sente dor

A igreja nova
Seus sinos não salvam ninguém
A santa chora
E o padre reza com desdém


II


Um pisa no pé do outro e nem ao menos se desculpa
Outro a uma mulher sozinha com os olhos estupra

Ao longe se ouve uma criança gritar "pai, pai!"
É o desespero da cidade
Olhares desconfiados e a maldade.




Talvez/ Dos olhos de um moço

Vejo prédios de papel
E os carros soltam vapor
Olhe aquele arranha-céu
É sem vida e incolor

Olhos vagos, passo apertado
É o que vejo de manhã
E isso não é num só bocado
Vai do jovem à anciã

Passei toda madrugada
A pensar nessa questão
Olheiras me surgem no rosto
E não acho solução

Destruir toda tevê
E o sistema capitalista
A realidade tu vai vê
E deixará de ser consumista

(inspirações em sotaques melodiosos nordestinos)



 Cinza, cores... visão

Na cidade a fumaça cresce
E nas favelas a neblina desce
De qualquer jeito esse cinza é triste
Muitos negam "ele não existe"

Feche os olhos e finja que não vê
Assim como na justiça botaram uma venda em você!

E não fazem nada pra isso melhorar
Tô cansado de ver eleição e nada mudar
Quebre as barreiras do cinza, da cor
E verás logo florescer a mais bela flor.


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